13 de outubro de 2010

Funeral coletivo na guerra espanhola

Iremar Marinho

Cadáveres de poetas
não servem para heroísmo.
Enterrem logo seus corpos.
Que suas algaravias
não rendam parcos discursos.

Cadáveres de poetas!
Sumam com eles das lápides!
Nem decompondo eles cessam
de comandar as trincheiras
na guerra contra os fascistas.

Cadáveres de poetas
ocupam largos espaços
das terras que se definham.
São feitos para o porvir
(seus ecos roucos retumbam).

Sua atemporal estética
são liames encarnados.
Descarnem logo seus corpos
para que não regorgeiem.
Que não vejam o Paraíso.

não haverá paraíso
nem amores desfolhados


Poetas vivos empestam
o ar da Espanha com versos,
corrompem o ar com silepses,
anástrofes, desestrofes,
com redondilhas sinistras.

Candentes hordas de arqueiros
(traças infra-racionais),
com licenças e silêncios
(com licenciosidades)
esperam coser o mundo.

Seus fantasmas insurgentes,
com armadilhas de rimas
(seus ritmares possessos),
são perigosos, conspiram
contra o ódio dos tiranos.

Seus estribilhos retornam,
suas canções todos solam,
seus ditirambos deliram,
por Baco se embriagam,
por musas se desvanecem.

São fortes contra o Tirano
(contra os cães no pedestal).
Só não resistem aos fuzis
dos criminosos fascistas
(a estese de facínoras).

Aterrem logo estes versos!
Poetas não deixem rastros!
Poemas não subsistam
sob a estese dos fuzis
do Tirano-General!

Não dobrem pelos defuntos.
Apressem seu desencanto,
na terra que vai sorvê-los.
Que jazam definitivos
no calcanhar dos tiranos.

Não esperem Federico
Garcia y bandarilleros,
que eles não voltarão.
Luminares de poetas,
seus rastros são luminosos.

Neste momento dramático
do mundo, o artista deve
chorar e rir com o seu povo.

6 comentários:

  1. Iremar,
    Neste momento dramático do mundo chorei-me aqui, mas rio-me também por saber o mar que há em poemas assim...

    Abraço das fontes que há em Minas,
    Pedro Ramúcio.

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  2. Caro Pedro Ramúcio,
    Bom quando comunicamos o drama humano
    e temos o reconhecimento vindo de sítios
    tão belos quanto o Canto Geral...
    As fontes de Minas, inesgotáveis,
    até precedem as lutas modernas
    e perenes pela liberdade do homem.
    Abraços do Bestiário

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  3. Iremar,

    Que belo chão esse, onde a poesia brota ao ruído do artista.
    Voltarei para colher as flores.
    Obrigada pela visita ao Faces do Poeta.
    Bj

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  4. Ira,

    Bela poeta (e belo nome)
    a colher flores nascidas
    ao som desta Lira.
    Agradeço a você pela visita
    e pelo comentário afetuoso.
    Parabéns pelo seu (nosso)
    belíssimo Faces.

    Beijos

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  5. Iremar,
    Bela surpresa foi ler a sua poesia.
    Lindos os versos seus.
    Beijos,
    Nina.

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  6. Nina,
    Fico contente por lhe surpreender
    com a poesia e tê-la como seguidora.
    Persigo você, no bom sentido,
    pois tudo que você faz é belo
    de se ver e de se navegar.
    Beijos retribuídos.

    Iremar

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