Augusto de Campos
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Povo meu ó meu polvo
Nas cabeças escuras e nos braços amargos.
Onde os teus olhos, onde
Em tanto visgo e areia?
Estremeces os braços, vens de longes águas.
Onde os teus olhos, onde?
Escorreram no visgo a clara substância
Ou a areia os enxuga até as tristes raízes?
Moves a negra massa e negra
Guiam-na os olhos cegos como bocas.
Moves-te em derredor e enquanto dormes
Deixas um rastro sempre o mesmo, negro.
Serão teus estes crânios escuros que parecem
Vivos embora escuros crânios,
Essas bocas sem lábios que ainda vomitam sangue
E devoram devoram outros crânios escuros
Pelas nucas inertes?
Ó polvo meu extenuado povo
Monstro de carne e sono que se move
Como eu caminho ao meu redor sombrio.
Que mais queres de mim além de mim?
Arrancaste-me a língua e a hera cobre estas palavras
Pedras
Que se rompem de mim com o sangue de meus vasos
E eu mordo com meus dentes em derradeira oferta:
Quando começo: - Mar... – os teus ouvidos apodrecem
(Não se comove a tua massa, move apenas
Aquelas negras, negras vozes,
Falam em pão em prata e eu ouço PEDRA).
(Viva Vaia – Poesia 1949 – 1979 –
Projeto Gráfico Julio Plaza e Augusto de Campos -
Editora Brasiliense - 1986)
Quantas verdades em seu poema!
ResponderExcluirTe seguindo com carinho.
Bjs de luz.
Goretti
Goretti Amiga,
ResponderExcluirQue bom para este blog ter
o carinho de sua visita e seu prestígio
para se engrandecer na busca da poesia.
Neste Atemporal vou postando poemas
do mundo todo e, juntos, meus modestos escrevinhados.