18 de junho de 2013

Usina *

Iremar Marinho 


O bueiro fere o espaço. 
O apito fere o tempo.

A fumaça fere o ar.
A produção fere a gente.

Nos gases que a usina expele,
sobem as almas dos homens,

que são nada. Embora tantos,
somem no ar, são fumaça.

Fumaça que leva sonhos
de fuligem maculados. 

Fumaça que fere o ar.


Marcas * 

Iremar Marinho


A máquina produz homens,
abastecendo o mercado, 

no cumprimento da lei
da oferta e da procura.

Cada caixa de homens traz
sua etiqueta loquaz –

esta: ricos; esta: pobres,
mais esta: desempregados. 

Mais uma caixa: tiranos, 
aqueloutra, marginais. 

São as marcas registradas.
Homem industrializado,
                                                    
medido, empacotado,
computado, consumido.

*Poemas integrantes da "Coletânea Caeté do Poema Alagoano", publicada pela Seculte/Alagoas, 1987